sexta-feira, 7 de abril de 2017

Reflexões para o PED Fortaleza


Por Waldemir Catanho*

Algumas questões tem se sobressaído no atual - e mal feito - debate em torno da disputa da direção municipal do PT de Fortaleza. A posição do partido em relação à administração Roberto Cláudio deve mudar? Como envolver e movimentar as bases partidárias? Como estabelecer uma dinâmica partidária mais viva, onde o debate dos principais temas da conjuntura local ou nacional torne-se rotina? Por que o Partido não tem sequer uma sede própria ?

É com a pretensão de estabelecer um debate sobre alguns desses pontos, com as companheiras e companheiros que defendem a candidatura do Vereador Acrísio Sena, que escrevemos esse texto.

Oposição a Roberto Cláudio

Desde 2013 que as instâncias de direção do PT Fortaleza veem reafirmando a posição do partido como sendo de oposição à administração do Prefeito Roberto Cláudio. O PT fez isso de forma unânime, ao longo dos últimos 4 anos, em reuniões de executiva, do seu diretório e da bancada de vereadores.

De maneira alguma essa posição pode ser classificada como “tresloucada”, como foi dito pelo vereador Acrísio. De 2013 pra cá, inclusive dentro dos preparativos para as eleições de 2016, o partido organizou dezenas de encontros e plenárias nos bairros. Organizou seminários gerais e temáticos.

O partido falou, mas sobretudo ouviu. Ouviu o clamor contra a falta de médicos e medicamentos nos hospitais e postos de saúde. Ouviu as queixas com a queda na qualidade da merenda escolar e com o fechamento de bibliotecas e laboratórios de informática das escolas municipais. Ouviu as reclamações com a ausência de limpeza de canais e lagoas e a multiplicação do lixo nas ruas. Ouviu a denúncia do desmonte do orçamento participativo e dos mecanismos de participação popular. O partido ouviu tudo aquilo que a mídia local e a publicidade oficial escondiam.

Veio 2016 e ainda de forma unânime, apenas com poucas abstenções, o Encontro Municipal decide que o PT deveria ter candidatura própria nas eleições de Fortaleza.

Foram, talvez, as eleições mais duras que o PT disputou no Brasil. E mesmo assim, sem grandes estruturas, enfrentando o massacre diário da imprensa burguesa, obtivemos a terceira melhor votação do PT no país. Uma votação de oposição de esquerda. Uma votação de quem nos confiou esse papel.

E aí vem a pergunta: porque mudar de posição agora?

O vereador Acrísio evoca a importância da aproximação do PT com o PDT de Roberto Cláudio em Fortaleza para a manutenção da mesma aliança no plano estadual e para que ela se estabeleça no plano nacional. São argumentos fora da realidade.

O Governo Camilo foi parido pelo PDT. Suas relações demonstram-se tão profundas a ponto do próprio Camilo ter dito que o PT deveria abdicar de lançar candidato próprio à Presidência da República para apoiar a candidatura de Ciro Gomes. As principais lideranças do PDT no estado já vêm se manifestando pela reeleição do Governador Camilo. Não é a manutenção da posição do PT de Fortaleza na oposição a Roberto Cláudio que vai mudar isso. Isso sequer está em discussão.

No plano nacional a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República vem tendo vida própria. Ciro vem dizendo que Lula não deveria ser candidato, que sua possível postulação é um desserviço ao país e que não topa ser seu vice. Aqui também não é uma mudança de linha política do Diretório que vai interferir em coisa alguma.

Funcionamento e dinâmica partidária

As críticas às deficiência de funcionamento do partido em si são injustas na medida em que se dá a entender que esse é um problema particular do PT Fortaleza. Para sermos justos é preciso reconhecer que o PT como um todo, nacionalmente, entrou num processo de burocratizarão e esvaziamento de sua vida partidária ao longo dos últimos 20, 25 anos. O distanciamento dos movimentos sociais é um fenômeno geral e não particular. Tudo isso só será efetivamente revertido com uma mudança de padrão de funcionamento do partido, de sua instancias e suas correntes. É questão muito mais profunda que a simples mudança de presidente municipal.

O aspecto de denúncia da ausência de estruturas como sede e funcionários chega a ser absurdo. Propositalmente se esquece que a partido tem meios de arrecadação e sustentação financeira precários. Os DMs vivem apenas das contribuições dos gabinetes parlamentares municipais, recebendo apenas ocasionalmente recursos do fundo partidário nacional.

Por último: o rótulo de partido "independente" que defende o vereador Acrísio para o PT de Fortaleza sempre teve duas consequências práticas na política brasileira. Ou se é da base e se quer ir ou ameaçar passar a ser oposição - e aí o partido declara-se independente. Ou o inverso: se é oposição e ensaia-se uma aproximação mudando-se o rótulo para “independente”.

Entendo que para sermos coerentes não precisamos tergiversar. Para não trair o voto dos quase 200 mil eleitores que confiaram em nós, o PT deve se manter numa posição clara, de esquerda, sem subterfúgios. Só assim ele será o desaguadouro dos movimentos sociais e das lutas populares daqueles que esperam muito mais que viadutos e areninhas.


*Waldemir Catanho é militante do PT Fortaleza

Um comentário:

  1. Perfeito, sem reparos! Não podemos dar ouvidos aos "tresloucados" por cargos públicos!!!!!!!!!

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